Todo time que se preze tem o seu talismã. É aquele jogador que fica a maior parte do tempo no banco de reservas, mas sempre aparece para salvar a equipe em situações difíceis. Esse é Rob Halford para o Black Sabbath. Duas vezes o Metal God surgiu em momentos que a banda precisava de um substituto. A primeira em 1992, durante os shows de despedida (fakes, é claro) de Ozzy Osbourne. A ideia era que o Sabbath se apresentasse primeiro, Ozzy na sequência e a formação original (Ozzy, Iommi, Butler, Ward) encerrasse a noite. Mas Ronnie James Dio, em sua segunda passagem pela banda, se recusou terminantemente, o que resultou em mais um rompimento do baixinho com seus colegas de grupo. Coube a Rob salvar o barco.
A segunda ocasião rolou em 2004, durante o Ozzfest. Com uma séria bronquite, Ozzy ficou impossibilitado de cantar no show em Camden, New Jersey. Como o Judas Priest estava participando do festival, nada mais conveniente que Halford comparecer mais uma vez e dar aquela força aos amigos. Dessa vez, o setlist era totalmente baseado na formação original, o que facilitou o trabalho do cantor, que não precisou aprender músicas recentes na última hora. Alguns debilóides que achavam que “Black Sabbath é a banda do cara que aparece naquele seriado de TV” ficaram descontentes, vaiaram um pouco e foram embora. Quem era fã de verdade ficou, pois sabia que estava presenciando um momento histórico.
De todos aqui citados, foi aquele que teve maior participação efetiva na história do Black Sabbath. Entrou na banda durante a tour de Seventh Star, substituindo Glenn Hughes, que não estava dando conta do recado, graças aos seus abusos químicos e o nariz quebrado, fruto de uma briga com um Road manager, fazendo com que coágulos se formassem em seu rosto. Com esse cenário, Ray Gillen deixou o Rondinelli, com quem havia gravado o álbum Wardance, e imediatamente juntou-se a Tony Iommi, Dave Spitz, Eric Singer e Geoff Nicholls. Importante salientar que Glenn ficou muito magoado, pois ele e Gillen eram amigos. Mas o tempo fez com que tudo se resolvesse e eles reataram relações antes da morte de Ray, em 1993, decorrência da AIDS.
O recém-chegado cantor injetou ânimo renovado ao trabalho, com suas ótimas performances que podem ser conferidas em bootlegs de shows da época. Logo após o fim da excursão, a banda entraria em estúdio para começar a gravar um novo disco. Mas dificuldades no processo de composição, desacertos financeiros e falta de comunicação interna, Ray Gillen acabaria saindo para se juntar ao Phenomena, prestes a registrar seu segundo álbum e estourar mundialmente com o hit “Did It All For Love”. Iommi recrutou Tony Martin, que regravou as vozes para que The Eternal Idol finalmente fosse lançado. Ray ainda apareceria em um pequeno trecho – a risada maléfica na faixa “Nightmare”. Recentemente, após muitos anos disponível como bootleg, o álbum foi relançado trazendo a versão gravada por Gillen como bônus.
Sabe Heavy Metal? Mas Heavy Metal MESMO! Aquele que começa a música e você automaticamente sai bangeando e tocando air guitar. Aqui você vai encontrá-lo elevado à enésima potência. Não é por menos que o Lizzy Borden (nome inspirado em Lizzie Borden, uma mulher norte-americana que matou o pai e a madrasta a machadadas em 1892 e, mesmo assim, conseguiu ser inocentada no julgamento) é um dos grupos mais idolatrados da cena oitentista na terra do Obama. É bem verdade que com o passar dos anos eles foram se aproximando cada vez mais com o Hard Rock – o que não impediu que continuassem lançando excelentes discos. Mas nesse registro ao vivo, a influência de bandas como Iron Maiden dos primeiros trabalhos, Judas Priest e afins é latente, além da abordagem de temas de horror no melhor estilo Alice Cooper.
The Murderess Metal Show registra a primeira turnê do grupo, logo após o lançamento do clássico debut, Love You To Pieces. O álbum, que também foi lançado em formato de home vídeo, marca a estréia do lendário – e já falecido – guitarrista Alex Nelson, em substituição a Tony Matuzak. Aqui temos um grupo cuspindo fogo, despejando todo seu peso e climas macabros em uma audiência enlouquecida. Clima perfeito para porradas na orelha como “Council For The Cauldron”, “No Time To Lose” ou “Godiva”, passando pelas climáticas “Rod Of Iron” e “Love You To Pieces”. Rola até um cover para “Live And Let Die”, de Paul McCartney. Sim, alguém teve essa idéia antes! E a casa pega fogo no final, com a dobradinha de hinos formada por “American Metal” e “Give’Em The Axe”.
Após a parte ao vivo, ainda há espaço para dois sons inéditos. Valem como bônus. Não recomendado para pessoas com tendência a torcicolos e/ou problemas crônicos na região da coluna. Os danos podem ser irreversíveis. É Heavy Metal em sua mais pura essência! Vale baixar e também procurar pela versão em DVD, que em algumas cidades pode ser achada até mesmo nas liquidações de estoque, pois saiu em versão nacional. Nela, podemos ver cenas como Lizzy decapitando uma moça de lingerie, bebendo seu sangue e simulando sexo com sua cabeça; além da banda inteira enchendo o Papai Noel de porrada em pleno palco. Coisa fina.
Lizzy Borden (vocals) Alex Nelson (guitars) Gene Allen (guitars) Michael Davis (bass) Joey Scott (drums)
01. Council For The Cauldron 02. Flesheater 03. Warfare 04. No Time To Lose 05. Rod Of Iron 06. Save Me 07. Godiva 08. Psychopath 09. Love You To Pieces 10. Live And Let Die 11. Kiss Of Death 12. Red Rum 13. American Metal 14. Give 'Em The Axe 15. Finale 16. Dead Serious 17. (Wake Up) Time To Die
Dokken – Back For The Attack Lançado em 27 de novembro de 1987
O Dokken recebia atenção redobrada a cada álbum que lançava. Tooth And Nail e Under Lock And Key já haviam, cada um, conquistado disco de platina nos Estados Unidos. As turnês estavam se tornando maiores, com o grupo oscilando entre atração principal e ato de abertura de gigantes como AC/DC, Dio, Judas Priest, Scorpions e Aerosmith.
Back For The Attack, quarto lançamento da banda, potencializou o sucesso já conquistado anteriormente. As gravações tiveram início em dezembro de 1986 e em três meses o single de “Dream Warriors” já chegava. A canção, maior responsável pelo tamanho êxito comercial do play, foi lançada antes porque faria parte do terceiro filme da série A Hora Do Pesadelo, de Freddy Krueger, que levou o nome da música em português: Os Guerreiros Dos Sonhos.
Musicalmente, a proposta aqui continua a mesma. O Dokken continuou apostando na sonoridade diferenciada que estava no limite entre o Hard Rock oitentista e farofeiro e o Heavy Metal de sustância. Os caras sabem, como ninguém, aliar riffs pesados e instrumental trabalhado com melodias grudentas e refrões bem acessíveis.
Don Dokken, cantando como nunca, chega até a exagerar em alguns (poucos) momentos. Algo que nunca poderia acontecer hoje em dia, visto que soa voz e seu fôlego não existem mais. George Lynch, inspirado e amadurecido, faz o seu melhor trabalho com a banda até então. O guitarrista transborda criatividade e técnica. A cozinha de Jeff Pilson e “Wild” Mick Brown, como sempre, se mostra uma das mais eficientes do Hard Rock. Isso pode ser comprovado ao vivo, já que guitarra base não faz falta na presença desses dois.
O único defeito de Back For The Attack é ter muitas faixas e seu tempo de duração ultrapassar os 60 minutos, o que pode tornar a audição integral enjoativa de vez em quando. Mas vale ressaltar que, ao meu ver, não há nenhum filler por aqui.
Back For The Attack é o lançamento de maior sucesso do Dokken até hoje, sendo que “Dream Warriors” se responsabiliza bastante por essa repercussão. Além desta, outros três singles foram lançados: “Burning Like A Flame”, “Heaven Sent” e “Prisoner”. O álbum adquiriu disco de platina rapidamente nos Estados Unidos, mas ainda se responsabilizou por feitos inéditos na carreira do grupo: entrou nas paradas suecas (19ª posição), suíças (25ª posição) e britânicas (96ª posição). A turnê ainda rendeu um registro ao vivo, gravado no Japão: Beast From The East.
Infelizmente, se trata do último play a ser lançado com a formação original até a (falha) reunião em 1995. A banda se dissolveu em 1988, em decorrência das brigas que tinham, principalmente, Don Dokken e George Lynch como pivôs. Don investiu numa carreira solo, George e Mick montaram o Lynch Mob e Jeff passou por várias bandas e projetos, como Dio e McAuley Schenker Group.
Entre os destaques, estão a já citada “Dream Warriors”, a melhor do registro; a pauleira “Kiss Of Death” e seu refrão imbatível; a arrastada semi-balada “Heaven Sent”; a roqueira “Cry Of The Gypsy”; a grudenta “Prisoner” e a matadora faixa instrumental “Mr. Scary”. No mais, Back For The Attack é um clássico do Hard n’ Heavy.
Don Dokken (vocal) George Lynch (guitarra, violão) Jeff Pilson (baixo) Mick Brown (bateria, percussão)
01. Kiss Of Death 02. Prisoner 03. Night By Night 04. Standing In The Shadows 05. Heaven Sent 06. Mr. Scary 07. So Many Tears 08. Burning Like A Flame 09. Lost Behind The Wall 10. Stop Fighting Love 11. Cry Of The Gypsy 12. Sleepless Nights 13. Dream Warriors